Solidariedade para com Cláudia Simões

Expresso publicamente a minha solidariedade para com Cláudia Simões, sua filha, familiares, amigos e camaradas, assim como o meu repúdio para com a decisão judicial que a condena.

Com efeito, não posso ser conivente com a transformação de uma vítima em agressora, depois de ter sido barbaramente agredida, à frente da sua filha, apenas e só porque não tinha título de passageiro para a criança. E, tudo acontece num transporte público para o qual a sua filha, pela idade, nem carecia de pagamento.

Mais ainda, para além da criminalização da vítima e da absolvição do agressor, um agente de segurança pública, não posso compactuar com a forma como todo o caso está a ser divulgado. Quase todas as manchetes dão destaque à condenação de Cláudia Simões e ao veredicto atribuído de 8 meses de pena suspensa. Porém, muito pouco se fala dos 3 anos de pena suspensa, no mesmo processo, atribuídos ao agente que deveria zelar pela segurança das pessoas e não agredi-las, como o fez, justamente no mesmo episódio que conduziu à detenção da vítima Cláudia Simões.

Assim, preocupa-me o rumo que a nossa sociedade está a tomar e a sua tendência para o abismo que desnuda o seu racismo estrutural. Porém, impressiona-me mais ainda a forma impune como a Justiça, a Comunicação Social e a sociedade desumanizam a cidadã Cláudia Simões e negligênciam os seus traumas, assim como os da sua filha menor.

Em suma, enquanto homem, branco e europeu, tenho consciência do meu privilégio. Por isso, posiciono-me em defesa do progresso e de um mundo justo, equitativo e fraterno para todas as suas pessoas. Todavia, mais do que palavras bonitas, as vítimas precisam de ações concretas e posicionamentos claros e assertivos. Este é o meu.