9 de Novembro, da Noite de Cristal ao alerta contra o Populismo atual
- luispintolisboa
- 15 de nov.
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Hoje, 9 de Novembro, assinalamos o Dia Internacional Contra o Fascismo e o Anti-Semitismo. Esta data de memória solene evoca a noite de 9 para 10 de Novembro de 1938, conhecida como a "Noite de Cristal" (Kristallnacht).
Sob um pretexto forjado, este evento sinistro marcou o início público e violento do Holocausto. As ações nazis resultaram no incêndio de centenas de sinagogas, na profanação de cemitérios, na destruição e saque de mais de 7500 lojas, e na deportação imediata de 30 a 35 mil judeus. A doutrina fascista e anti-semita do nazismo acabaria por ceifar a vida de mais de 6 milhões de pessoas — judeus, romani, LGBTQIA+, pessoas com deficiência ou até mesmo adversários políticos.
Assim, o Parlamento Europeu formalizou este dia com um objetivo claro: combater o fascismo, o racismo e a xenofobia. Por isso, a lembrança da Kristallnacht transcende a homenagem às vítimas; é um apelo urgente à vigilância. Este apelo torna-se imperativo no contexto atual, marcado pelo crescimento de movimentos populistas em Portugal e por todo o mundo, que ameaçam os pilares da democracia.
Com efeito, embora o populismo contemporâneo não seja exatamente igual ao fascismo clássico, este último é a sua influência assumida. Partilham, de facto, perigosas linhas de continuidade.
Não raras vezes, a extrema-direita apenas muda o nome a práticas fascistas. O exemplo mais gritante é o uso do termo "remigração" no lugar de "deportação", que, não só visa normalizar a expulsão de minorias, como juntou a perda de nacionalidade à sua agenda punitivista e autoritária.
Dessa forma, para evitar que a tragédia de 1938 se repita, é fundamental recordar o que precedeu a violência: a erosão da democracia. Lembremos que a ascensão de Adolf Hitler e do Partido Nazi ao poder em 1933 foi facilitada pela divisão da Esquerda (SPD e KPD), permitindo aos nazis chegar ao governo por meios formalmente democráticos.
É por isso que, hoje, a nossa tarefa é expor a perigosidade da retórica populista que simplifica problemas complexos e divide a sociedade entre um "povo virtuoso" e umas "elites corruptas" — o velho "divide et impera".
Esta dicotomia constitui uma ameaça direta à Democracia, corroendo, dia após dia, a legitimidade das instituições, da imprensa e do sistema de justiça. Pior ainda, a agenda populista alimenta o Ódio, usando o nacionalismo e o nativismo como motores para vender a ideia falsa de que a diversidade e a imigração são ameaças à identidade nacional e aos direitos dos cidadãos "nativos".
Em Portugal, a forte desconfiança em relação à classe política criou um terreno fértil para a sedução populista. As suas políticas de exclusão e xenofobia representam, assim, um eco contemporâneo do ódio que culminou no Holocausto.
Recordar o 9 de Novembro é, em suma, a chave para entender que a violência e o terror são invariavelmente precedidos pela deslegitimação democrática.
Dizer NÃO ao fascismo e ao anti-semitismo é, hoje, também dizer NÃO à intolerância e à erosão democrática promovida pelo populismo. Esta é uma obrigação moral de todas as pessoas, garantindo que o ódio da história nunca mais se repita.




