
102 anos de Santos Simões
- luispintolisboa
- 12 de ago.
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102 anos do nascimento do ícone da cultura vimaranense, Joaquim Santos Simões, 12 de agosto de 1923 a 23 de junho de 2004.
"Não me esqueçam"
Joaquim António dos Santos Simões, político, professor e pedagogo, nasceu a 12 de agosto de 1923, em Espinhal, freguesia do município de Penela, vila do distrito de Coimbra. Foi na sua terra natal que começou a sua atividade teatral e associativa, e, com naturalidade, participou nos movimentos de luta pela Liberdade iniciando cedo a sua intervenção política.
Porém, é culturalmente que se começa a destacar. Assim, a partir de 1946, participa no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), onde, mais tarde, será diretor, encenador e ator e com o qual fez inúmeras tournées, por vários continentes. De seguida, no ano letivo de 1950/51 foi eleito presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) e concluiu as suas licenciaturas em Ciências Matemáticas e Engenharia Geográfica. Naturalmente, Santos Simões teve um papel ativo no Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD Juvenil), e, em 1948, apoiou a candidatura à presidência da República do General Norton de Matos.
Então, eis que, em 1957, chega à cidade berço, colocado na Escola Comercial e Industrial de Guimarães iniciando uma revolução no movimento cultural e associativo da cidade. Foi o seu colega, o Professor José Craveiro da Costa que, de imediato, o integrou no Círculo de Arte e Recreio (CAR), onde, Santos Simões propôs que o Teatro do Grupo Musical Ritmo Louco fosse restruturado no Teatro de Ensaio Raul Brandão (TERB).
Em Guimarães, Santos Simões nunca esqueceu a luta pela Liberdade, e, recém chegado à cidade, apoia a campanha eleitoral do General Humberto Delgado. Santos Simões foi também fundador do Cineclube de Guimarães, em 1958. Em seguida, em 1959, é eleito sócio Honorário do CAR e da Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense.
Veja-se, a vida de Santos Simões sempre se destacou por um profundo sentimento de igualdade, praticando como poucos a justiça e a intervenção cívica. Deste modo, esteve ligado a várias instituições e associações, tendo sido dirigente da Sociedade Musical de Guimarães, do Infantário Nuno Simões, da Cercigui, tendo ainda lecionado na Escola do Magistério de Guimarães. Foi Presidente da Sociedade Martins Sarmento e deputado à Assembleia Municipal pelo MDP-CDE. Colaborou com a imprensa local, durante a década de 60, foi o responsável pela separata cultural do "Notícias de Guimarães", e, a partir de 1976 foi cofundador e colaborador do jornal "O Povo de Guimarães".
Contudo, em 1968, por denúncia de um colega, padre, Santos Simões foi preso pela PIDE. Consequentemente, uma vez solto, foi impedido de lecionar e de exercer cargos públicos pelo regime fascista. Mas, mesmo tendo a sua vida profissional e pessoal gravemente afetada, Santos Simões, nunca virou a cara à luta e nunca deixou de tomar uma posição em prol da fraternidade e da defesa das mulheres, das crianças e das pessoas idosas.
Por conseguinte, Santos Simões pertenceu ao grupo Democratas de Braga, na luta contra o regime salazarista. Assim, Santos Simões produziu diversos textos em defesa de causas justas sendo contribuindo para dar substância à dignidade humana que sempre defendeu.
Portanto, Santos Simões foi um especialista em Teatro de língua portuguesa, e, há pelo menos 5 gerações de jovens em Guimarães, que, para além de o terem tido como professor, o tiveram como amigo, camarada e encenador.
Para ilustrar uma das suas últimas publicações, Santos Simões escolheu a imagem de uma flor chamada miosótis, conhecida em inglês como "forget-me-not", ou seja, "não me esqueçam" na tradução literal para português. E, não tendo nascido em Guimarães, sentiu a cidade como poucos, tendo escrito: Minha terra é este berço; onde nasceu Portugal!; o casco urbano bem terso; espraia-se em ruas telhados; em seu cofre medieval; a todos deixa espantados!; Mas o que a mim mais encanta; é o povo que aqui vive; aqui sofre, trabalha, canta; na terra que eu não tive; Mas que é minha... pois então.
De realçar ainda que, Santos Simões pertenceu à Comissão instaladora da Universidade do Minho, e, em 1986, foi nomeado, pelo reitor, para o Senado desta Universidade. Portanto, a democracia, a liberdade, a cultura, têm, em Guimarães, a sua impressão digital de Santos Simões.
Em consequência, em 1996, Jorge Sampaio, então Presidente da República, condecorou-o com a Comenda de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, evocando as suas qualidades de resistente antifascista, democrata, homem de cultura, professor e dirigente associativo, catalisador de atividades que redundaram em obra coletiva.
Santos Simões, faleceu a 23 de junho de 2004.
🖼 Retrato de Joaquim Santos Simões por António Gaspar Viana Paredes 2004, Óleo s/tela, 625x500mm.



